Heleno de Freitas


Nascimento: 12 de Fevereiro de 1920, em São João Nepomuceno (MG), Brasil. Faleceu em 8 de novembro de 1959, em Barbacena (MG), Brasil.

Posição: Atacante

Clubes: Fluminense, Botafogo, Boca Juniors (ARG), Vasco, Junior Barranquilla (COL), Santos e América-RJ.

Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Carioca (1949) pelo Vasco.

Títulos por seleção: 1 Copa Roca (1945) e 1 Copa Rio Branco (1947) pelo Brasil.

 “O craque problema”

Elegante, técnico, goleador, rápido, fatal. Ao mesmo tempo, e nas mesmas proporções de suas qualidades, explosivo, temperamental, irritadiço, catimbeiro. A década de 40 revelou o primeiro craque problema do futebol brasileiro, mas que também seria um dos maiores atacantes do nosso futebol: Heleno de Freitas, o maior ídolo do Botafogo antes de Garrincha. O atacante boa pinta, de 1,82m, fã da boemia e inteligente, jogou futebol apenas 11 anos, o bastante para deixar sua marca na história, principalmente no Botafogo, onde marcou 204 gols em apenas 233 jogos, uma absurda média de 0,87 gols por jogo. Pela seleção, foram 15 gols em apenas 18 jogos, que poderiam ser mais não fossem suas desavenças com o técnico Flávio Costa. Porém, sua vida no limite o levou ao fundo do poço, e Heleno se foi com apenas 39 anos, em uma casa de saúde em Barbacena-MG. É hora de relembrar a carreira desse brilhante e arredio gênio da bola.

A descoberta na praia

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Heleno foi descoberto pelo folclórico Neném Prancha, roupeiro e massagista do Botafogo, que também tinha uma escolinha de futebol para crianças nas areias de Copacabana.  E foi nas areias cariocas que ele descobriu um jovem talento, mas muito marrento e de temperamento difícil. Porém, com seu jeito brincalhão e com frases de efeito, Prancha logo levou o garoto Heleno ao Botafogo, em 1934. Depois, ficou um tempo no Fluminense até voltar à General Severiano, onde teria a responsabilidade de substituir o ídolo Carvalho Leite, goleador do tetracampeonato carioca do alvinegro de 32 a 35. E logo a torcida ganharia um novo ídolo para adorar.

Craque exuberante


Elegante dentro e fora de campo, rápido, goleador e ótimo no cabeceio, Heleno rapidamente conquistou a simpatia dos torcedores do Botafogo e despertou a cobiça dos adversários. De 1940 a 1948, ele era a referência do clube alvinegro e sinônimo de perigo para os zagueiros rivais. Ao mesmo tempo em que era mortal no campo, seu temperamento começava a trazer muitos problemas, com seguidas expulsões e o surgimento de inimigos tanto dentro quanto fora de campo. Nesse período, se irritava facilmente quando alguém o chamava pelo apelido que ganhara a partir de 1946: Gilda, numa referência ao filme homônimo de imenso sucesso à época estrelado por Rita Hayworth, que simbolizava quase que perfeitamente o próprio Heleno, ao retratar uma mulher de beleza singular e temperamento explosivo, como o craque.


Mesmo com tantos gols (foram 204 pelo Botafogo nesse período), Heleno não conquistou um título sequer. O principal culpado disso foi o Vasco, que, na época, era o maior esquadrão do futebol carioca e nacional, chamado de “Expresso da Vitória” e campeão de praticamente tudo o que disputou de 1942 até 1952.

Ida à Argentina, o primeiro título e o início do fim



Depois de tantos anos brilhando pelo Botafogo, mas sem levantar um caneco, Heleno se seduziu com uma proposta milionária do Boca Juniors, da Argentina, e partiu para a equipe portenha em 1948. Lá, jogou muito pouco, mas o suficiente para deixar 7 tentos em 17 jogos. Em sua breve passagem pelo clube argentino, muitos disseram que Heleno teve um caso com o mito político da Argentina Eva Perón. O fato, porém, nunca foi comprovado.

O craque, em 1949, voltaria ao Brasil, para estrelar no grande Vasco e conquistar seu primeiro título por um clube, e marcar 19 gols em 24 jogos. Ainda em 1949, Heleno jogou no Junior de Barranquilla, na famosa Liga Pirata da Colômbia, onde ficou até 1950. Voltou ao Brasil e  jogou no Santos e  no América, atuando em apenas uma partida, a sua primeira e única no Maracanã. Curiosamente, ele foi expulso aos 35 minutos do primeiro tempo. Seu sonho de atuar no “maior estádio do mundo” chegava ao fim. Nessa época, poderia ser a grande estrela do Brasil na Copa de 50, mas estava brigado com o técnico Flávio Costa e não era nem sombra do craque que espantou o Brasil na década de 40. Para piorar, começavam a aparecer os primeiros sintomas da sífilis, doença que o levaria ao fundo do poço. Era o começo do drama de Heleno.

Anos tristes e o fim

Heleno sempre adorou a boemia, frequentava as mais badaladas boates do Rio e consumia drogas como éter e lança perfume. Tais substâncias o deixavam constantemente “doido”, que o levaram, certa vez, a tentar se auto-eletrocutar num treino do Botafogo. Por conta de um comportamento tão desvairado, Heleno contraiu a sífilis, doença altamente contagiosa e adquirida, provavelmente, em uma de suas diversas idas aos bordéis cariocas. A doença começou a lhe causar problemas no início da década de 50, e em 53 teve de ser internado pela família em um sanatório na cidade de Barbacena (MG). A sífilis chegava a um estado avançado e consumia a cabeça do jogador, que ficou louco. A insanidade e o estado precário de sua saúde o levaram à morte no dia 8 de novembro de 1959, esquecido por todos e muito pobre. Heleno morreu sem saber que a seleção brasileira tinha sido campeã mundial pela primeira vez, na Suécia, em 1958. E sem saber que ele poderia ter sido o nosso grande herói na Copa de 50, e quem sabe, em 54. Ou então, que poderia dar um bicampeonato mundial ao Brasil na década de 40, se os europeus não teimassem em cair na mais profunda guerra mundial.

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Era o fim de um dos maiores craques do futebol brasileiro. Do gênio bestial, indomável, cheio de ira e ao mesmo tempo, elegância. Do homem que serviu de conto para Gabriel Garcia Márquez, que virou estátua, que marcou 249 gols em 304 jogos como profissional. Que conseguiu ser ainda mais famoso que um time todo que fazia história (o Vasco “Expresso da Vitória”), que levava as mulheres ao delírio, bem como os zagueiros ao chão. 

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Nunca um filme se equiparou tanto com um jogador como o lendário “Gilda”. Se a campanha publicitária do filme dizia “nunca houve uma mulher como Gilda”, o futebol adaptou tal frase, e criou uma própria para descrever o craque problema que tanto brilhou: Nunca houve um jogador como Heleno…

Heleno no América - RJ era seu primeiro jogo no Maracanã, e também o último.

Heleno já no final de sua vida, doente,  e seu filho Luis Eduardo de Freitas

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