10 de Fevereiro de 2015
A volta da Peste Negra. Casos da doença voltam a assombrar o mundo e preocupam autoridades mundiais
O sinal de alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) está acionado. Desta vez, não é por conta do Ebola, mas de um possível novo surto da peste bubônica, em Madagascar, país insular da costa sudeste da África. De acordo com um comunicado da OMS, até o final do ano passado, foram confirmados ao menos 119 casos da doença, incluindo 40 mortes. "O surto que começou em novembro passado tem algumas dimensões preocupantes", disse a OMS, na última semana de janeiro. "As pulgas que transmitem esta doença de ratos para os seres humanos desenvolveram resistência aos inseticidas de primeira linha." Os especialistas informam que a peste está se espalhando, principalmente, em favelas densamente povoadas na capital de Antananarivo.
NO SÉC. XIV, UMA PANDEMIA DA PESTE BUBÔNICA, A PESTE NEGRA, ELIMINOU CERCA DE 1/3 DA POPULAÇÃO DA EUROPA.
A doença é causada pela Yersinia pestis, uma bactéria encontrada em roedores e transmitida por pulgas. Caso uma pulga infectada pique uma pessoa, ela poderá desenvolver a peste bubônica, que tem com principal sintoma o inchaço dos gânglios linfáticos.
Se as bactérias atingem os pulmões, o paciente pode desenvolver a peste pneumônica, o que é mais raro. Caso isso ocorra, a doença é ainda mais perigosa, porque pode ser transmitida entre humanos pela inalação e tosse.
"Caso diagnosticada precocemente, a peste bubônica pode ser tratada com sucesso com antibióticos", disse a Organização Mundial da Saúde. "A pneumônica, por outro lado, é uma das doenças infecciosas mais mortais; os doentes podem morrer 24 horas após a infecção." Pelo menos 8% dos casos podem avançar para a peste pneumônica, disse a OMS.
A pergunta que fica é: será que desta vez a comunidade internacional irá se movimentar rapidamente para conter esse novo surto da peste? Ou poderemos ver o mundo, novamente, em estado de alerta, como aconteceu com o Ebola? O vídeo do especial Pandemia mostra a cronologia desta "epidemia anunciada":
Fontes: CNN, OMS Imagem: Photo Credit:Content Providers(s): CDCOriginal uploaderL M123 at en.wikipedia [Public domain], via Wikimedia Commons
A PESTE NA HISTÓRIA
A peste negra ficou conhecida na história como uma doença responsável por uma das mais trágicas epidemias que assolaram o mundo Ocidental. Chegando pela Península Itálica, em 1348, essa doença afligiu tanto o corpo, quanto o imaginário de populações inteiras que sentiam a mudança dos tempos por meio de uma manifestação física. Assim como a Aids, a peste negra foi considerada por muitos um castigo divino contra os hábitos pecaminosos da sociedade.
Conforme alguns pesquisadores, a peste negra é originária das estepes da Mongólia, onde pulgas hospedeiras da bactéria Yersinia pestis infectaram diversos redores que entraram em contato com zonas de habitação humana. Na Ásia, os animais de transporte e as peças de roupa dos comerciantes serviam de abrigo para as pulgas infectadas. Nos veículos marítimos, os ratos eram os principais disseminadores dessa poderosa doença. O intercâmbio comercial entre o Ocidente e o Oriente, reavivado a partir do século XII, explica a chegada da doença na Europa.
O contato humano com a doença desenvolve-se principalmente pela mordida de ratos e pulgas, ou pela transmissão aérea. Em sua variação bubônica, a bactéria cai na corrente sangüínea, ataca o sistema linfático provocando a morte de diversas células, e cria dolorosos inchaços entre as axilas e a virilha. Com o passar do tempo, esses inchaços, conhecidos como bubões, se espalham por todo corpo. Quando ataca o sistema circulatório, o infectado tem uma expectativa de vida de aproximadamente uma semana.
Além de atacar o sistema linfático, essa doença também pode atingir o homem pelas vias aéreas atacando diretamente o sistema respiratório. Essa segunda versão da doença, conhecida como peste pneumônica, tem um efeito ainda mais devastador e encurta a vida do doente em um ou dois dias. Em outros casos, a peste negra também pode atingir o sistema sangüíneo. Desprovida de todo esse conhecimento científico sobre a doença, a Europa medieval explicava e tratava da doença de formas diversas.
Máscara de um médico de peste do Séc 17
Desconhecendo as origens biológicas da doença, muitos culpavam os grupos sociais marginalizados da Baixa Idade Média por terem trazido a doença à Europa. Alguns registros da época acusavam os judeus, os leprosos e os estrangeiros de terem disseminado os horrores causados pela peste negra. No entanto, as condições de vida e higiene nos ambientes urbanos do século XIV são apontadas como as principais propulsoras da epidemia.
Na época, as cidades medievais agrupavam desordeiramente uma grande quantidade de pessoas. O lixo e o esgoto corriam a céu aberto, atraindo insetos e roedores portadores da peste. Os hábitos de higiene pessoal ofereciam grande risco, pois os banhos não faziam parte da rotina das pessoas. Além disso, os aglomerados urbanos contribuíram enormemente para a rápida proliferação da peste. Ao chegar a uma cidade, a doença se instalava durante um período entre quatro e cinco meses.
Depois de ceifar diversas vidas, esses centros urbanos ficavam abandonados. Os que sobreviviam à doença tinham que, posteriormente, enfrentar a falta de alimentos e a crise sócio-econômica instalada no local. Por isso, muitas cidades tentavam se precaver da epidemia criando locais de quarentena para os infectados, impedindo a chegada de transeuntes e dificultando o acesso aos perímetros urbanos. Sem muitas opções de tratamento, os doentes se apegavam às orações e rituais que os salvassem da peste negra.
A intensidade com que a epidemia afetou os centros urbanos europeus era bastante variada. Em casos mais extremos, cerca de metade de uma população inteira não resistia aos efeitos devastadores da epidemia. Estudiosos calculam que cerca de um terço de toda população européia teria sucumbido ao terror da peste. Ao mesmo tempo em que a peste negra era compreendida como um sinal de desgraça, indicava o colapso de alguns valores e práticas do mundo feudal.
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